Internet na escola

O excepcional avanço no uso Internet, notadamente nos últimos dois anos, vem demonstrando claramente os impactos que ela pode provocar – e de maneira geral vem provocando – em diversos setores de uma sociedade globalizada. No Brasil o número de usuários da Internet aumenta de maneira expressiva.

A “navegação” pela WWW (Wide World Web), seja para comprar, procurar emprego ou simplesmente se informar, e o correio eletrônico ocupam cada vez mais tempo no cotidiano de famílias das classes média e alta. Adultos, adolescentes e até mesmo crianças começam a usar a Internet de uma forma tão natural como ligar o rádio ou a televisão na busca de informação e entretenimento. Em tal cenário, é bastante razoável imaginar que essa tecnologia possa trazer impactos relevantes na educação.

oamis_computadorNesse mesmo tempo a escola ainda se vê desafiada para incorporar o computador nos processos de ensino-aprendizagem de uma forma que efetivamente agregue valor ao processo educacional. Pais e alunos, movidos principalmente pela lógica da empregabilidade, demandam da escola o uso do computador. A concorrência leva também à informatização das escolas: “Se a escola concorrente usa o computador, a minha escola tem que fazê-lo” pensam os diretores, muito embora não se ocupem em avaliar a qualidade e adequação desse uso. Enquanto isso a escola ainda permanece um pouco perdida no como usar essa tecnologia. São várias as razões, que vão desde o despreparo dos seus professores para um uso inteligente dessa tecnologia até a carência de bom software de uso educacional.

De repente, como se encontrasse uma solução mágica, a escola passou a ver na Internet uma possibilidade de uso mais imediato do computador nos processos de aprendizagem.

Mas o que é a Internet?

Sem considerarmos que talvez seja o “maior depósito de lixo” já criado pelo homem, a Internet deveria ser vista por dois prismas, se quisermos destacar bem suas funções. De um lado, ela funciona como uma grande biblioteca, oferecendo informação das mais diferentes formas e da mais variada qualidade. Por outro lado ela se torna um grande caminho de comunicação entre pessoas e, não seria exagero afirmar, uma estratégia que vem resgatando a comunicação escrita (embora o uso exagerado dessa forma de comunicação já comece a reduzir o contato entre pessoas)..

Olhemos para a biblioteca e a escola.

oamis_estudante_3Uma biblioteca tem seu valor, que é inegável, nos processos de aprendizagem. Mas não basta que ela esteja presente ou acessível; é preciso que o aluno saiba como usá-la. E isso significa não só saber como acessar o que ali está colecionado, mas principalmente selecionar o que ali está colecionado, sabendo de sua adequação à tarefa de escola e de aprendizagem. Portanto, o aluno precisa aprender a usar a biblioteca antes de o fazer. Esse ensinar a usar é uma tarefa da escola num processo de formação do aprendiz.

Da mesma forma, ao simplesmente determinar ao aluno que vá à Internet e busque ali um ou outro texto a título de elaborar uma “pesquisa”, os professores e a escola poderão estão incorrendo em um grande engodo: estarão, mesmo que sem querer, iludindo os alunos – e até mesmo seus pais – ao fazê-los acreditar que isso é um uso adequado do computador na escola. E sem nos esqueceremos de que se dará ao aluno uma grande chance de lograr seus próprios professores já que os recursos dos browsers lhe permitem, com operações de copiar e colar, fazer com que passem como seus os textos de outros. Estarão se produzindo textos que são meras colagens, onde o único exercício do aluno será o manuseio do mouse ou do teclado, ao invés do exercício da capacidade intelectual.

Um outro potencial do uso da Internet na escola está na comunicação através do correio eletrônico e de outras formas (teleconferência, chat e outras).

No caso do correio eletrônico tem-se uma forma de comunicação assíncrona (os interlocutores não precisam tratar as mensagens no mesmo momento) e imediata (a transferência das mensagens é instantânea). E a comunicação é principalmente barata, já que se fala com o mundo ao custo de ligações telefônicas locais. É portanto uma possibilidade valiosa.

Mas acreditar que é simples esse uso da Internet na educação é outro grande equívoco.

Primeiro o aluno deverá estar preparado para essa comunicação. O aluno tem que saber o que, quando, como e com quem se comunicar. Prepará-lo para isso é uma tarefa prévia da escola para que os alunos não corram de despender tempo e energia com comunicações que em nada contribuirão no seu processo de escolarização.

Com certeza a Internet pode ser uma valiosa ferramenta para a escola. Mas mesmo com ela (ou talvez até mesmo por causa dela) a escola ainda terá o desafio de contar com professores preparados para estimular uma utilização de forma adequada e capazes de planejar tarefas de aprendizagem que possam estar eficientemente ancoradas nesse recurso.

Acreditar que a Internet chegará para a escola como a solução pronta e acabada para resolver o problema do uso do computador é uma ingenuidade que professores, diretores e técnicos educacionais não podem se permitir.

Simão Pedro P. Marinho, em abril de 1999

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